quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Avaria congénita?

Andar de carro.

Andar de carro tem que se lhe diga.

Os bebés por exemplo. Serão poucos os que não se rendem ao embalar calmo do acto de se fazer transportar por esse veículo de quatro rodas. São poucos os que choram enraivecidos dentro de uma máquina malevolamente puxada a derivados de petróleo.

Não fosse a gasolina tão cara e eu passaria a vida dentro do carro. A correr estradas sem dar por elas. Aconteceu hoje. E acontece tantas vezes no meu regresso a casa. O processo é simples. Chave na mão e num golpe de mágica (para mim) abrem-se as portas. Todas de uma só vez! Sento-me e pouso os infinitos objectos que me ornamentam todos os dias. O cinto aperta-se automaticamente e o recuo ainda exige alguma ponderação. O carro entra na estrada e aí vem a primeira e a segunda, até passar as desaconselhadas duas mil rotações.

Porque descrevo eu tudo isto minuciosamente? Porque conduzir é a minha terapia de hoje. E merece ser explicada. O carro está quente, assim sufocante como a vida. O vidro abre-se como que para dizer que para tudo haverá solução. Não fosse o vidro seria o superficial ar condicionado.

Depois de tudo isto, seguem-se 17 km feitos sem me aperceber dos carros com que me cruzei e das linhas tracejadas que pisei.

(Linhas contínuas imagino que não tenham sido muitas, a avaliar pelo fim típico da história)

Hoje pensava um pouco em mim. Trabalho, tenho um carro com airbag e ar condicionado, vou para casa no fim do dia. As amigas têm a vida delas, os amigos nunca se deram muito comigo e não tenho um namorado. Eu sei que não ter namorado aos 21 anos é buuuueda fixe, ya bora lá curtir a vida que só se tem vinte anos 365 ou 366 dias na vida. Vinte e um no caso. Mas não. Esse slogan não é para mim.

Eu sou uma romântica (ou só parvinha).

Sinto falta de uma coisa muito estúpida que alguns chamam amor. Outros não chamam porque é vulgar. Como se alguém deixasse de comer maças, ou de lhe chamar assim, porque o Adão e a Eva trouxeram a moda aos homens de bem. Na verdade eu amei. E amo. Mas ainda mais verdade é que a vida parou para mim. No amor. Nessa parcela que tudo move. Nesse tema tão extenso quanto a mais longa viagem de carro. Eu sei. Quem faz o carro andar sou eu. Eu sei, a gasolina também faz falta. Mas eu tenho gasolina, a vontade está meia gasta, mas ainda assim existe. Porque não anda o raio do veículo? Avaria congénita?

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