terça-feira, 22 de junho de 2010

Ausência

Não tenho escrito. Mas tenho tido bastante vontade. Já estou de férias e sem quase nada de obrigatório para fazer. Nunca estive tão confusa quanto a opções de vida. A minha cabeça neste momento é um autêntico emaranhado de coisas. Não estou triste mas também não se pode dizer que esteja feliz. Sou quase um ser inanimado. Não ter nada para fazer, no meu caso, é perigoso. Não sei bem como lidar com o nada. Sou uma insatisfeita. Há dias morreu o Saramago. Um senhor ao que sei. As avós não gostavam muito dele. A minha disse que era ruim. A do Pedro disse que agora é que ia ver como são as coisas. Isto porque o homem não acreditava na existência de um Deus bondoso, tal como é concebido pela Igreja e grupos religiosos. É um homem estranho para os da sua geração. Era. Sou um pouco ignorante no que toca às suas obras, porque depois do Memorial do Convento dado em aulas, não fiquei desperta para ver mais. Estou agora profundamente interessada em ler Caim. pela polémica que causou. Ler ao sol para ganhar alguma cor nesta brancura enfadonha que é a minha pele. Em breve saberei que vou fazer nos próximos dois meses. Se trabalhar a part-time vou ter que ir pedir para as ruas, se não em Barcelos (nome que substitui Barcelona para não parecer que já não me calo com isso) só posso almoçar. Para jantar, falta de verbas. Muito falo eu em Barcelona. Como se isso fosse resolver tudo o que parece não ter solução. Vou, mas levo os pensamentos comigo. Vou e levo um aperto por deixar pessoas para trás. Que certamente não estarão quando eu voltar. PessoaS? Sem S talvez.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Há sempre Alguém...

O grande problema é que não tenho sono. Já inventei de tudo para passar tempo porque já me deitei entre almofadas e lençóis. Já mandei mensagens a meia lista telefónica. Já meti música nos ouvidos. Agora, ao som de Rui Veloso, vou escrevendo ao ritmo das batidas. Amanhã tenho teste de Espanhol. Hoje tive baralhada e afundada naquilo que consegui reunir ao longo do curso. Verbos e mais verbos. Os espanhóis, tal como os portugueses, gostam de expressar as acções. Sin embargo, para mim as parecenças tornam tudo muito complicado. A minha táctica é ir um pouco pela intuição que tantas vezes já me atraiçoou. Uma vez escrevi de uma maneira um qualquer verbo e fui questionada sobre o porquê de ter escrito assim. Eu respondi “porque me soou melhor assim”. E a professora com toda a calma do mundo perguntou em forma de resposta: “e tu já tens estatuto para te soarem coisas?”. E não. Só me restou reduzir-me a um sorriso abreviado e ao silêncio. Desta vez, vou guiar-me pela nublada memória fotográfica que me ficou do que fui vendo hoje. Em cinco meses de Espanhol, não posso dizer que sou perita, mas talvez dê jeito e até ganhei algum gosto pela língua de nuestros hermanos que até então pouco ou nada me dizia. Não conhecendo muito, não sou particularmente curiosa pela cultura espanhola como um todo. Interessam-me partes. As metropolitanas. Touradas e Mano Chao não me interessam. Mudando de assunto. Hoje acordei com uma mensagem especial. De alguém muito importante. Alguém cuja importância descobri um pouco tardiamente. Essa pessoa, atenta, estava no nosso quarto o tempo todo. A observar-me. Silenciosamente. Sem saber, partilhava com ela a minha vida. Chama-se Sara e não foi uma simples colega de quarto. Pessoa convicta nas suas ideias, teimosa, atenta nos detalhes, perfeccionista, estudava como se não houvesse um amanhã para voltar a estudar tudo de novo…a Sara. A Sara foi muitas vezes um espelho para mim. Partilhámos histórias de vida com semelhanças inacreditáveis, desde logo pelo número, idade e género de irmãos. Mas muito mais. As nossas conversas alongavam-se muitas vezes sem darmos por isso. Porque o lugar comum é um foco de interesse. Nós temos muitos. Não chegámos a ter uma despedida formal. Até porque seria doloroso. Ela ainda não sabe se faz mestrado e mesmo que faça, não voltaremos a ser colegas de quarto. Ou muito dificilmente. Porque eu estarei em Barcelona e quando regressar, ficarei onde houver espaço para mim. As circunstâncias serão certamente outras. A última vez que nos vimos, foi quando a fui levar à paragem de autocarros. Ela disse que ainda nos veríamos e que portanto não era preciso formalizar nada ali, naquele momento. Cada uma seguiu o seu caminho. A mensagem de hoje foi uma despedida disfarçada. Continuaremos a falar. Mas havia um capítulo para encerrar. E o que dizia a mensagem? Para além de constatar a nossa não-despedida, dizia que talvez tenha sido melhor assim. Entre palavras, a mensagem acabou com a frase que marca um pouco a nossa amizade “Haverá sempre alguém”. Tal como eu, ela é boa em metaforizar. Ao longo de dois anos, tivemos uma única discussão. E porquê? Pela disposição do quarto. Tudo para ver quem vestia as calças naquele quarto. Vestimos as duas, mas eu às vezes visto saia e ela não larga os pantalones vaqueros. É desta forma avacalhada que os espanhóis dizem calças de ganga. Sem obrigados, obrigado Sara Figueiredo. Não, ela não morreu. E sim, ela lê com assiduidade o meu blogue. Mas nada disto é um acto bajulador. É apenas uma vontade de expressão pelo que senti esta manhã quando li a mensagem.

Casamentos

Casamentos. Não posso dizer que sou anti-casamentos. Há uma lógica irracional nos casamentos pela Igreja. A fé e a religião em si são isso mesmo, irracionais. Acredita-se porque se acredita. Porque sonham as pessoas casar-se pela Igreja? Será que a união de duas pessoas que se amem é mais forte quando é marcada por um dia em que se decidiu ir à Igreja atestar esse amor? Será que há assim tantos crentes escondidos nas suas casas? Será que é por se acreditar que um amor na casa do Senhor dura mais que um casamento APENAS mental? Ou um casamento civil? Todas estas questões embora sejam pertinentes ao caso, são de certa forma escusadas. E porquê? Porque é do conhecimento público e geral que os casamentos pela Igreja arrastam consigo tradições (a que eu chamaria de rurais) e isso sim, é o fundamento do acontecimento. Na grande maioria das vezes. Mostrar-se a familiares e amigos que há bonitos arranjos nas mesas, que nunca se viu um vestido de noiva tão caro ou extravagante e que as mesas estão fartas. Nos últimos tempos, dois convites de casamento chegaram às minhas mãos. Irei a um deles. No meu caso, ir a um casamento assim é bom porque é motivo para calçar saltos altos. Descobri há tempos a sensualidade que uns sapatos altos podem dar a uma mulher. Também comprei um vestido e tratei de todas aquelas futilidades femininas que tornam a mulher um ser atraente e diversificado. No papel de convidada, o casamento parece-me bem. Gosto das sobremesas, nem que as saboreie apenas com o olhar, gosto de ver como as pessoas se prepararam para tal evento e gosto de ver sapos tentarem transformar-se em príncipes e princesas. Normalmente em vão. Mas a meio já estou mais que farta das observações. Eu no papel de noiva é que já não me parece tão bem. Não gosto muito do cheiro da Igreja, não me dou bem com formalidades ou mariquices. Gosto que olhem para mim mas não gostaria de ser o centro das atenções durante um dia inteiro, em que estaria enfiada no desconforto de um vestido branco. É uma ideia de conto de fadas que no meu caso só seria bom no imaginário. No entanto acho bonito ver duas pessoas sintonizadas selarem o acordo de formar família. Casar para mim tem uma implicação maternal e paternal. Casar é mais um assumir de vontades de formar família. Também se pode ter filhos sem assinar um papel antes…mas não é bem a mesma coisa. Gosto da simbologia da aliança. Acho lindo quando essa simbologia tem uma real correspondência. Materialidades? Em muitos casos serão, mas eu sou uma romântica.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

http://www.urbi.ubi.pt/_urbi/pag.php?p=7998

Pura poesia do dramatismo

Um dia serei feliz e não mais voltarei a chorar. Prometi que começava há duas semanas atrás, mas descobri que não depende da minha vontade. Depende do efeito do tempo, do sol, da chuva…coisas sobre as quais não tenho o poder de comando. Mais um dia em que estou triste. Também melancólica…em breve ficará para trás uma Covilhã que já me viu ser feliz e uma Covilhã que já salguei com as minhas abundantes gotas salgadas. Um dia, uma outra Letícia voltará. Cheia de vida para dar e com coisas mais interessantes e menos pessoais para falar. Fiz uma rima.

A amizade pode ser passageira?

Tenho 20 anos e posso dizer que já vivi muita coisa no que respeita à amizade pura e dura. Muitos foram os que passaram e poucos são os que ficam. Os amigos que estão e estarão sempre presentes, são poucos. Amigos sentem saudades. Eu tenho saudades. E tenho uma grande dificuldade em cortar relações com as pessoas, mesmo quando eu já não tenho significado importante nas suas vidas. Não o significado que costumava ter. Há o caso da Rita e posso falar nele sem qualquer problema. Toda a fase do secundário tive uma amiga que se chamava Rita. Era a minha companheira das aulas, dos intervalos, das horas de almoço…de tudo um pouco. Costumávamos comer M&Ms nas aulas de Matemática às sextas à tarde. Para dar açúcar ao intelecto. Era bom e tenho saudades. Era uma amiga. Agora, por circunstâncias académicas, ela está na Guarda e eu na Covilhã. Ela em Marketing e eu em Comunicação. Estamos perto, mas estamos longe. Raramente falamos e quando falamos é porque eu lhe digo alguma coisa e ela não tem como escapar e responde. É mais ou menos isso. Com a Mara foi mais cedo. Era a minha amiguinha desde o quinto ano e fomo – nos afastando até que ela encontrou a metade da laranja e deixou de haver espaço para mim e ao que parece, para outras amizades dela. A última vez que a vi foi num funeral e parecíamos duas estranhas, cheias de formalidade e distanciamento. Tenho pena. Tinha também um grande amigo. A nossa amizade começou por mensagem e de forma muito particular. Houve uma carta que ele me mandou e que dizia uma coisa que ficou memorizada quase inconscientemente. Dizia mais ou menos isto “Quero a tua amizade. O resto, se vier, que venha mas sem estragar essa amizade.” Pois, o resto veio. Veio e agora foi. E com esse pequeno acrescento que foi o amor, foi também a amizade. Eu tentei e tento todos os dias ser amiga dele. Conversar com ele é diferente de conversar com qualquer outra pessoa. Ou costumava ser. Porque agora eu sei que não tenho aquela importância toda que costumava ter. Os meus problemas, alegrias, conquistas e tudo isso, deixou de ter interesse. A amizade parece-me apenas uma ideologia temporária. Amanhã acontecerá com esse meu amigo aquilo que aconteceu com a Mara e com a Rita. Seremos apenas estranhos conhecidos. E isso causa-me estranheza. Ver desaparecer pessoas que foram e serão sempre muito importantes para mim. Eu sei que isso acontece todos os dias a todas as pessoas no mundo…mas a mim causa-me estranheza e bastante tristeza. Sou uma pessoa que não se abre a toda e qualquer pessoa. Depois, qualquer perda é extremamente dolorosa. Espero que todas estas perdas sirvam de lição para o futuro. Espero ter a capacidade de não me envolver tanto.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mary J. Blige, U2 - One



Gosto muito desta música com esta junção que acho perfeita.

As pessoas

As pessoas. Há pessoas e pessoas. Muitas pessoas. Todos os dias parece haver uma diferente que passa por nós na rua. Ou que vai fazer compras ao Modelo e te observa atentamente. Ou que está nos serviços sociais onde tu também estás. A complexidade das pessoas é algo espectacular. Desde os seus particulares traços físicos ao conteúdo mais incógnito. Não é por acaso que se diz “não há duas pessoas iguais”. No mínimo há pessoas parecidas e no máximo há gémeos. Ontem estive a ser observada por um velhinho que foi fazer um grande favor ao neto. O favor foi passar quase três horas para entregar papéis nos serviços sociais da Universidade da Beira Interior. Tal como eu estive. As coisas lá funcionam a passo lento e eu soube desde logo o que me esperava. Alguns minutos depois de eu ter entrado, entra um senhor de idade generosa, com a pressa de quem está atrasado para apanhar o último comboio do dia. Apressado, sem saber para onde se virar. Era só miudagem com má cara, a fazer filas algures. Estava claramente na selva que são os sociais. Alguém o alertou para o facto de ser precisa uma senha. Como uma criança irrequieta procurou pelas senhas que deviam estar no interior daquele objecto vermelho que se pendura nas paredes. Mas já não havia senhas. Nunca houve, nem era preciso. Dirigiu-se a mim. Tratou-me por menina. Perguntou-me se era a última. Era mesmo. A partir daí, nunca mais saiu de trás de mim, como se fosse perder a vez se deixasse de ocupar o lugar simbólico na fila. Eu não sou uma pessoa do tipo faladora e em circunstâncias como essa limito-me ao género pergunta - resposta. Ao contrário de outro senhor (pelos vistos pai do único aluno que já fez exames de melhoria este ano) que se encontrava por lá e era o puro charlatão. A caricatura exagerada do puro charlatão. Essa figura levava consigo um Correio da Manhã. Ia lendo e comentando como se fosse um grande entendido na matéria. Em qual matéria? Todas. Política sobretudo. Coitado do que lhe desse conversa apenas com o olhar. Dizia frases brejeiras que prefiro não mencionar. Tinha uns daqueles óculos todos espelhados que levou para fazer charme. Na minha linguagem, era o puro tarrento. Sapatos rotos, camisola de bombazina desbotada. Talvez tivesse bigode. Mas bem. Voltando ao mais velhinho que era já um pouco meu amigo, mesmo sem nada falarmos. Era um senhor bem alinhado, usava óculos, camisa bem passada e umas calças e sapatos que combinavam consigo. Eu olhava para o telemóvel na expectativa que alguém me tirasse daquele mundo enfadonho da espera. Mas nada. Ninguém sentiu que estava a precisar de conversa. Encontrei por lá o Roberto de Cinema. Fizemos um pouco de conversa de circunstância e recolhi-me de novo ao silêncio e à cabeça cabisbaixa. A certa altura ele até me perguntou se estava bem. Eu estava completamente normal. Farta da espera, mas normal. Talvez o meu normal ande cabisbaixo, não faço ideia. Quando finalmente chegou a minha vez de ser entendida, entrei com o avô do neto preguiçoso. Quando estava a ser atendida e como de costume, o senhor Fernando dos socais meteu conversa. Disse que estava com má cara e foi aí que o senhor a seguir a mim na fila interveio. Disse que eu estava triste desde que me viu e queria de algum modo que eu me explicasse. Eu disse que estava apenas cansada, que o meu dia tinha começado às cinco da manhã e que estava farta da longa espera. Mas isso parece não ter sido suficiente. E insistiu. O senhor Fernando insistia em dizer o habitual “só está triste até me ver” e depois desta “vê? Já a fiz sorrir!”. E eu sorri por me sentir coagida para tal. Depois de tudo digitalizado e da sensação de dever cumprido, saí. Estive a ser observada pelo avô, pensei eu.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um dia de sol lá fora

"Fartas - te de escrever", disse-me a Raquel. E é verdade que tenho escrito muito. Mas não me farto. Agora é um prazer. Uma necessidade. Gosto mesmo de escrever. Um dia quero ser uma jornalista reconhecida. Não quero ser a próxima Manuela Moura Guedes, mas gostava que o meu nome fosse familiar a muita gente, daqui a uns tempos. Reconhecida pelos motivos mais nobres do jornalismo. Apetece-me mesmo começar a vida agitada do jornalismo. Acho até que no meu caso, a agitação e a ambição pela novidade, são as grandes razões que me levam a crer que estou no curso certo. Quero muito ser lida. Dar novidades importantes às pessoas. Ter acesso privilegiado aos locais, às pessoas que se dizem importantes num país, quero conhecer Portugal de uma ponta à outra. Quero presenciar cada sotaque, cada costume e cada tradição. Quero fazer perguntas às pessoas. Mas não estou nada preparada para ser chata, como o bom jornalista deve ser. Sou chata, mas não para todas as pessoas. Chata no sentido de perguntar e querer saber tudo. Também queria experimentar pelo menos uma vez na vida, um cenário inóspito. Que me fizesse sentir medo. Talvez seja uma ideia meia suicida, mas gostava. Não excluo essa possibilidade. Entretanto, está um belo dia de sol lá fora. Gosto do sol. O sol traz vida. Faz suar, faz ter vontade de água fria...torna as pessoas mais bonitas. Mais bonitas porque para além de se bronzear a pele, as roupas de verão são mais bonitas e diversificadas. No verão pode vestir-se calças, calções, vestidos, saias e até casacos, caso haja mais frio à noite. Vá, sem grande interesse esta minha constatação. Estou mais leve hoje. Pelo sol? Talvez. Ah, tenho dormido bastante bem nos últimos dias. Acho que a culpa também é do sol. Porque no fim do dia, estou cansada e sem líquidos (que libertei ao longo do dia com o suor) e é quase só preciso deitar-me em cima de uma cama. Mesmo bom. Gosto de dormir bem, acordo com outra vontade. Talvez seja hoje que compro a bicicleta. Gostava. Se sim, com certeza vou descrever esse momento aqui.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Um funeral à chuva e uma Letícia chuvosa

Fui ao cinema. O filme fez-me rir e sorrir. Fez-me lacrimejar. Fez-me ter o mesmo sentimento de perda ali representado. Tocou-me. Feriu-me porque passei o filme todo a desejar que alguém estivesse ali do meu lado. A sorrir também. A trocar olhares cúmplices. Aquele era um filme para ver sozinha ou com esse alguém. E a Sara que me desculpe. Saudades, melancolia…tudo parece ser motivação para eu me sentir assim. Durante o caminho para casa, vim sempre a pensar no mesmo. Falar-lhe do filme. Pouco porque sei que ainda não o viu. Mas partilhar o facto de ter gostado. Partilhar tudo e qualquer coisa. Sinto muitas vezes essa necessidade. E tanto desejei que apareceu. Paraste e falaste. Eu fiquei bloqueada e instintivamente entrei no GA. Mil pensamentos aconteceram naqueles breves momentos até chegar a casa. Maus, bons, não sei bem. Agora estou aqui, a ouvir a música. A tal música. A que tem marcado estes dias. Perguntas, dúvidas…tudo se mistura na minha cabeça fragilizada. Tento pensar que está noutra, apaixonado por outro alguém que não eu, mas ao mesmo tempo não acredito muito nisso. Acabo sempre por pensar que se eu fosse a tal, as coisas teriam sido diferentes. Haveria sofrimento, momentos de fraqueza e um dia iria voltar. Mal saí do carro e o meu coração disparou. A respiração alterou-se e permanece assim até agora. Como é possível as pessoas chegarem a este ponto? Como é possível eu ficar assim? Não sei. A sensação que tenho é que nunca vou conseguir superar o vazio. Muito menos preencher. Já agora, o filme era o “Um funeral à chuva”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Quem comanda o mundo?"

O teu bem faz-me tão mal. Um verso da Canção ao Lado dos Deolinda. Estou a desfrutar dessas relíquias musicais que os Deolinda proporcionam. Hoje já não me sinto triste. Até me ri bastante. Senti o ar da noite. As pessoas na rua parecem andar todas a comemorar algo. Euforia é o que ouço daqui. Não sei se são os festejos do final de ano, mas a mim parece-me cedo porque na segunda-feira ainda tenho um teste. E ainda há exames para os mais festivaleiros. Normalmente é mais para esses. Bem, ainda há pouco escrevi. Mas hoje apetece-me. Amanhã é feriado religioso. Amanhã é dia de corpo de Deus. Com letra maiúscula. E isto agora fez-me lembrar dum facto. Dois. No espaço de duas semanas fui abordada na rua por duas senhoras de idade avançada. Que me queriam ao certo, não sei. Fixei apenas uma das frases que uma delas proclamou muito convictamente “O Mundo está nas mãos de quem?”. Na altura apeteceu-me responder que estava nas mãos do Obama, mas depois achei que seria uma resposta muito impensada. Na verdade, não estava à espera que me parassem na rua para me entregar papelinhos que falam de Deus ou de alguém incógnito que vive nas sombras. Nem na segunda vez eu estava preparada. Ela fez a pergunta, mas depois percebi logo que não era para eu responder. Era só para parecer uma coisa mais interactiva. Com perguntas e tudo. É como quando se pergunta se está tudo bem. Não se pergunta, afirma-se e a vida tem seguimento no instante a seguir. As duas senhoras tinham um ar afável e trataram-me por menina. Uma delas desejou-me boa sorte para os estudos. Nos dois casos, tentei olhar minimamente para o papelinho que entretanto me havia sido entregue. Após seguir o meu destino, tentei manter o pequeno presente nas mãos para não denunciar o meu óbvio desinteresse. Em questões religiosas, o meu desinteresse supera qualquer ateísmo ou religiosismo fanático. Já fui à missa algumas vezes. Ultimamente não faz parte da minha rotina domingueira. Ir lá não acrescenta nada ao meu dia. Há quem diga que estar na Igreja dá uma certa paz interior. Essa paz interior encontro-a no contacto com a Natureza quente e não num local que tem cheiro a velhinhas devotas. É um sítio que me parece completamente sem vida. Se é lá que Deus mora, então Deus é um ser muito parado. Aborrecido até. O melhor das duas vezes em que fui parada na rua é que em ambos os casos fui surpreendida pela rapidez com que fui despachada. Eu tinha ideia de que essas coisas eram mais elaboradas. Com grandes discursos ensaiados. O que me foi dito era claramente ensaiado, mas era pouco. Talvez andem a ter em conta a idade já alongada dos recrutados para tais tarefas. De qualquer maneira é estranho e fico sem saber o que fazer. O melhor e o suposto é eu ficar calada. Nas duas vezes, notei também que apesar de estarem aos pares, homem e mulher, era sempre a mulher que falava. Deve ser ainda aquela ideia salazarista de que os sexos não se misturam e os meninos têm aulas com um professor e as meninas com a professora. E lembrei-me agora que ontem a entrar para o estádio também havia separação. Mulheres revistavam mulheres. E eu que já estava mentalizada de que ia ser revistada por um matulão, cheguei e diante de um deles afastei os braços do corpo. Foi então que ele me disse “vá ali ter com a minha colega”. “Ufa”, pensei eu. Depois acabei por ter que entregar o tripé que levava. Se fosse homem, deixava. Assim, mulher, eficiência acima de todos e quaisquer decotes.

Tenho 95 visitas?! Uh!


A partir de ontem, o meu blogue passou a ter um contador de visitas. E eu estou espantada com o numero que aquilo aponta. Sinceramente, não contava com mais de três ou quatro pessoas a lerem o que aqui é dito. Ainda por cima, pouco ou nenhum interesse têm os meus últimos textos. A mim não me interessariam, a não ser que estivesse dentro dos assuntos. Tudo bem que a linguagem lamechas é universal e todas as pessoas entendem mais ou menos o que se passa. Mas mesmo assim. O meu blogue não tem interesse. Eu orgulho-me muito dele porque é meu, mas mais nada. É chato e aborrecido para o mais comum dos mortais.Enfim, mas estou contente, apesar de não fazer muita questão que o espaço seja do conhecimento geral. Há pessoas que eu não queria que lessem. Por não gostar delas ou por achar que a minha vidinha não lhes diz respeito. Mas quem tem blogue sujeita-se. E se não quisesse leitores, escrevia um diário. O fundamento da minha escrita é ter alguém que se interesse por ela.Posto isto, vou falar da boca da Manuela Moura Guedes e das orelhas do José Rodrigues dos Santos. Mentira, essa foi só a sugestão da Sara, a minha colega de quarto de há dois anos a esta parte. Vou falar de gelados. Mentira. Hum...amanhã é feriado! Talvez não seja tema de grande interesse. Ah, já sei. Amanhã estreia uma longa metragem que dá pelo nome de "Um Funeral à chuva". O filme inclui muita juventude e conta a história de um grupo de amigos que se reúne após dez anos de separação. O motivo da reunião é a morte de um deles. Eu estou curiosa essencialmente porque foi feito por um ex-aluno da UBI(Universidade da Beira Interior) e isso é-me próximo. Entretanto fiz uma pausa neste assunto e fui tirar umas fotos. Fui não. Fiquei. A Sara tem uma reportagem sobre depressão e eu estive a servir de modelo em nome dessa causa. Não que eu esteja deprimida! Estou é morena e as pessoas morenas parecem mais deprimidas. Mentira. Fui eu porque sou o que está mais à mão. E para provar o sucedido, vou até mostrar uma das fotografias. Uma das coisas que mais gosto é ter muitas fotos em que vou poder mexer. Gosto de mexer. De abrir o Photoshop e brincar. Gosto muito. Não sei grande coisa daquilo e não exploro muito onde não sei. Mas o que sei parece ser suficiente para gostar. Gosto quando de uma fotografia banal se consegue algo bonito de se ver. Os grilos. Os grilos cantam lá fora e só me parece que já é Verão e estou em casa, num daqueles dias aborrecidos em que nada se passa. E como não se passa nada, ouço os sons mais ocultos, que parecem não existir nos dias mais agitados. Já bronzeei um pouco. Deve ter sido na bancada do Complexo desportivo onde estive um bom bocado. Ontem tinha um decote um pouco mais abusador do que o normal. Devo dizer que é engraçado cruzar com um ser do sexo masculino quando se está numa condição mais "arejada". Notei que a tendência é uma fuga do olhar para lá. E se isso acontece comigo que não sou propriamente a Pamela Anderson, imagino com o resto das mulheres. Até me senti um pouco privilegiada.Os seguranças no estádio sorriam e um deles até perguntou se o jogo valeu a pena. Penso que o mais comum é manterem-se sérios como se de estátuas se tratasse. É o mais habitual. Não se pense que há aqui um ego em alta. Até não. Estou mais magra e não gosto. Sei perfeitamente que um decote é sempre um decote. Até eu olho se vir um que abuse a passar à minha frente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Hoje tropecei e tive que escrever

Hoje a única forma de conforto é a escrita. O silêncio e a escrita. Só eles sabem ser meus companheiros de todas as horas. Mais nada. Mais ninguém. Foi um dia psicologicamente cansativo. Estou cansada dos dias. Estou farta da rotina de mais um dia. Os grilos ou alguns bichos do mesmo género fazem-se ouvir por entre as janelas abertas do quarto. O calor nocturno de Verão regressou. Voltaram com ele os mosquitos. Só tu nunca mais voltarás. Só eu nunca mais voltarei. Anoitece. Amanhece. Um dia termina e o outro começa. Sucessivamente. Sem que o mundo pare e espere por mim. Solidão. Mais um dia de solidão. A sensação que por vezes tenho é a de que ninguém nota muito a minha ausência. Sou peça facilmente descartável. Pouco conveniente. Não sei. Sou uma pessoa por natureza defeituosa. Sou impulsiva, costumo ser directa, não costumo dizer olá às pessoas pelas quais não nutro especial simpatia, não sou propriamente sociável e amável. Sou reservada e poucos são os que me conhecem verdadeiramente. Quase ninguém sabe da existência deste blogue e também não faço questão disso. Nem mesmo a minha irmã saberá que escrevo aqui. Eu sou melhor a escrever do que a falar. Posso encadear melhor os pensamentos e não sou traída pela emoção da presença física. Música dos Queen. Barcelona. Gosto muito e está agora a passar na Rádio. Músicas. Gosto de chorar ao som de algumas. Das que me tocam no ponto sensível. Nunca chorei tanto ao som de músicas. Nunca chorei tanto. Ponto final. Dói-me saber que és feliz sem mim. Que provavelmente não estás a sofrer e que vives a tua vida. Fazes-me falta. A tua companhia é insubstituível. O teu sorriso não é superado pelo sorriso de mais ninguém. Os momentos que passei contigo não se apagam com uma borracha. Não sei o que fazer com este amor que teima em permanecer, apesar de toda a mágoa. Sem ti o mundo parece ter deixado de ser redondo. O meu mundo é formado por uma linha recta que terei de percorrer. Pode parecer que não, mas é inevitável eu ter desabafos destes. Podia fingir que está tudo normal e fingir que contigo ou sem ti dá no mesmo. Mas não. Não dá. Não estou a sugerir nem a pedir nada. Estou apenas a dizer. Porque se não disser, a noite não me deixará dormir. Há dias prometi-me ser feliz. A promessa continua de pé, eu é que hoje tropecei. Tenho saudades. Tenho muitas saudades do passado. Fizeste de mim um ser completo. Deste-me segurança. Deste-me confiança. Deste-me altura. Despertaste-me para temas e assuntos. Acolheste-me nesta Covilhã que hoje não me deixa sarar a ferida. Amaste-me com os olhos. Hoje em dia tenho o vazio que tu deixaste. Muita mágoa. Muitas lágrimas soltas por conta própria. E muito amor que fica guardado comigo. Gosto de ti.