terça-feira, 31 de maio de 2011

Mais do mesmo é o que parecerá

O meu dia foi solitariamente interessante. Ando numa fase da vida em que não ir às aulas deixou de ser um peso na consciência e ando muito autónoma. Será um bom exercício para o futuro. Algures a meio deste meu dia fui entrevistar mais um senhor para a minha reportagem. Depois das perguntas feitas quase sem papel, vieram as conversas de circunstância. Cheguei a descobrir que o senhor entrevistado é vizinho revoltado de uma pessoa que eu até conheço tão bem. Pessoa essa de que não gosto mesmo nada. Durante as queixas eu pedia no meu íntimo ainda mais. Queria saber mais coisas más daquela pessoa. Queria ouvir falar mal dela. E ouvi. Serei eu perversa? Muito provavelmente serei normal. Vim para casa a pensar naquilo. Não muito, mas o suficiente para aqui descrever.

Não fui à piscina, mas pensei nela com vontade. Fui antes dar mais uma corrida de 10/11 minutos no complexo desportivo da Covilhã. É o meu comprimido para as dores. Mas tenho de fazê-lo sozinha. Correr acompanhada é uma arte, embora se torne mais fácil. Os que estiverem a pensar que é pouco que reparem no meu físico invejável. Com a minha natural tendência para emagrecer, principalmente no Verão, espero que esta overdose de exercício não me leve à magreza feia.

Outra coisa. Tenho muitos planos para tempos próximos. Vou a Viana do Castelo dê para onde der. E não faltará muito. Vou acampar depois de 21 anos a imaginar como será. Em Peniche. Vou trabalhar para um jornal em Julho e lá ficarei durante pelo menos os próximos 9 meses. Farei mestrado na UBI por falta de alternativas. Penso na ideia de ter um carro só meu. Além de tudo isto surgiu a possibilidade um pouco remota, mas que me fascina, de ir a Moçambique no fim do ano. Aqui virei para vos falar de cada uma dessas coisas. Não porque vos interesse, mas porque me apetece.

Afinal, eu sou mesmo boa a fazer o que quero.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Penitez

O coelho Penitez.

Era uma vez um coelho chamado Penitez.

Não sei como era.

Não sei porque tem este nome ridículo.

Sei que era um coelho gostado pela criança que cuidava dele.

O Penitez cresceu. Como tudo o resto cresce na Natureza.

Quem disser que os coelhos são todos iguais está muito enganado.

Há coelhos e há O Penitez.

Ter o Penitez por perto era como ter o amor de mãe. Certo. Incondicional.

Um dia O coelho foi libertado para um exterior imenso com o qual não sabia lidar.

Mas foi andando pela primavera. Foi feliz na sua vida de liberdade.

Chegou o Inverno e morreu.

A criança pensou sempre que era o inevitável.

O coelho não.

Enquanto dura

Viver o presente sem passado nem futuro iguala-nos aos animais, não será? São eles que comem quando têm fome, bebem quando têm sede e acasalam quando assim tem que ser. Viver apenas o presente é utópico. Se me levanto de manhã ao som do despertador é porque aprendi no passado que é assim que deve ser. Se vou às aulas é para alcançar o objectivo de futuro. As pessoas são passado, presente e futuro. A consciência.

domingo, 22 de maio de 2011

Basquetebol lesiondo

Este fim de semana assisti a vários jogos de basquetebol feminino. Eu que não gosto muito de assistir, gostei. Fui ver, entusiasmei-me e recordei coisas. Os tempos em que jogava no desporto escolar. Sei hoje que jogava apenas razoavelmente. As raparigas que vi nos últimos dois dias estão noutro nível. Nacional. Tenho pena de não jogar. Basquete, volei...tudo isso que me faz mexer. Sei que só não jogo porque não quero. Mas o tempo é outro. Já não iam estar lá as gémeas, por exemplo. Foi estranha a sensação de velhice, se assim se poderá chamar. Sou uma pessoa de competição. Correr para mim é mais para passar o tempo. Também já joguei ping pong ou ténis de mesa (como se diz quando se fala do desporto a sério), já joguei futebol e um pouco de tudo. Badminton não é o que mais gosto. Andebol também não.

Foi bom ir ver as nacionais e não estar muito focada na imensidão de coisas que tenho para fazer.

E hoje já tenho sono, vou dormir.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Senhor anónimo, escrever para si é um prazer

Estive a responder a um comentário que me deu muito prazer em ler. Eu gosto de argumentar. Quando estou convicta de determinada coisa, é-me muito fácil fazê-lo. Quando tenho dúvidas, por mínimas que sejam, fico calada.

Outra coisa que me fez responder à vontade foi o facto de ser um anónimo. Acho que o facto de as pessoas não assinarem evita muitos constrangimentos de linguagem. Para mim em particular que gosto de recorrer à ironia. E o comentário fez-me lembrar de uma história.

Há dias em conversa acesa, uma amiga minha dizia que os estudantes universitários são todos inteligentes. E eu discordei. Como boa criticadora implacável (assim me chamaram um dia). O quê? Os estudantes universitários são todos inteligentes? Ou o meu conceito de inteligência é muito restrito ou o dela é muito alargado. Ou então há que categorizar os vários tipos de inteligência. Há a chamada inteligência saloia por exemplo. A inteligência da esperteza (a que dá boas notas a quem imprime cábulas a computador). A inteligência do mais forte (aquele que sabe sempre tudo porque tem mais força física para o saber). A inteligência especializada. E por aí em diante. Assim talvez concorde. De outra maneira não.

Outro mito que há é o de que as pessoas com boas notas são inteligentes. Não necessariamente. E atenção, eu nem tenho más notas. Como dizia o professor David G. Santos, os alunos têm melhores notas tanto mais fielmente reproduzirem as palavras dos livros ou do professor. Não há esforço ao nível da inteligência. E eu falo com conhecimento de causa. Quando penso muito num teste, a nota é sempre uma incógnita.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pode chamar-se crónica?

A manhã começa cedo e com a notícia de que a minha mãe passará a receber o salário mínimo nacional depois de (8) anos a receber mais que isso. O emprego não mudou, o que mudou foram as instalações. Sem grandes voltas a dar ao assunto, a situação é basicamente como a seguir se descreve. Haviam umas instalações provisórias de determinadas termas, onde a minha mãe trabalhou durante anos a fio sem nunca reclamar férias ou outros direitos que lhe assistiam. Às suas quatro colegas o mesmo se passou. Nunca houve tempo e espaço ao diálogo. Agora, depois de anos de especulações, as ditas termas abriram com novas instalações. O que antes era uma casinha de madeira (apesar de tudo com boas condições) é agora um complexo termal imponente no meio do nada interior. Com o progresso veio o regresso, apraz-me dizer. As pessoas que deram corpo ao manifesto durante anos foram descartadas das mais variadas maneiras. A umas deram a notícia de que não teriam onde trabalhar, às que restaram atribuíram-lhe as limpezas, o legado que terão de passar à geração dos manhosamente formados e um salário mínimo. Salário que ocupa o rés do chão da escala de salários atribuídos e apresentados na primeira reunião geral. Quanto a tudo isto tenho a dizer várias coisas. Num país em que se diz tanto de uma crise provocada pelas pessoas, o que dizer deste tratamento às que se dedicam? É assim que se conquista a produtividade? Parece-me que não. O incentivo das pessoas em muito se deve ao sentirem-se respeitadas no seu local de trabalho. E pela amostra, isso não acontece muitas vezes. Intuitivamente direi que será esse um dos factores que nos distancia dos países vizinhos e que torna os portugueses em França tão produtivos. Quando uma pessoa não tem perspectivas de melhorias futuras, que lhe resta? Restam-lhe a resignação e o contentar-se com pouco. Porque os tempos não são dados a protestos e a frase “há muito quem queira trabalhar” é coisa que as entidades patronais não se coíbem de dizer e repetir. Eu que não gosto de concordar com a visão pessimista de Portugal, sou forçada a reformular a frase que Rodrigo Guedes de Carvalho dita a cada final de telejornal. É o país sem lugar no mundo, todos os dias e sem hora marcada, na Vaca que ri.

“A política é ao estilo de Marcelo Rebelo de Sousa, uma política de coscuvilhices”

Entrevista a David G. Santos

David G. Santos é professor convidado a tempo parcial na Universidade da Beira Interior desde 2008, dá aulas na área da Teoria Política, Filosofia Política e Ética. É bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia desde 2007 e desenvolve trabalho de investigação em vários projectos universitários no Instituto de Filosofia Prática, na Covilhã, e no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Nos tempos livres, que à partida seriam poucos, é ainda consultor independente de negócios web e tradutor de Filosofia.

A Vaca que ri - O que considera essencial que os alunos levem das suas aulas?

Considero essencial que levem funcionalidade e pensamento críticos, não acho relevante que aprendam a reproduzir os conteúdos que eu tento transmitir. Quero que os meus alunos aprendam a pensar por si próprios, sem constrangimentos ou preconceitos, pensamentos à esquerda ou à direita. Que pensem no que de facto se está a viver, no caldo politico-social em que estamos.

A Vaca que ri - Sente que os seus alunos têm capacidade crítica para pensar a política?

Claro que não. Os alunos chegam às universidades sem a mínima capacidade crítica, o problema já vem detrás. Os alunos estão habituados a um sistema educativo em que são premiados conforme conseguem reproduzir com maior ou menor fidelidade aquilo que o professor tentou transmitir. Este paradigma não obriga a que os alunos se auto-organizem criticamente e consigam formar opiniões esclarecidas, límpidas.

A Vaca que ri - Acha que deveria haver uma cadeira de Teoria Política em todos os cursos?


Acho que a educação política devia começar muito antes da universidade, devia ser abrangente a todos os alunos, de todos os cursos. Eles deveriam ter conhecimento dos factos políticos, do que está a acontecer e do que aconteceu, e não das ideologias. E penso o mesmo da religião, sob o ponto de viste laico e científico daquilo que sabemos hoje.

A Vaca que ri - Fala-se na crise. Como diz o povo, a culpa é dos políticos?


Claro que é, não há dúvidas sobre isso. A culpa é dos políticos porque não souberam jogar com aquilo que têm, não souberam orientar um país que só criticamente consegue resistir aos problemas que o acercam hoje em dia. Investiu-se mal numa série de coisas, na educação, na investigação, nos transportes...e os primeiros culpados disso são os políticos. O que suaviza a culpa deles é o facto de serem filhos deste sistema que apenas lhes ensinou a repetir coisas. É normal que eles andem a repetir erros, sem novas ideias, sem novas soluções, sem nada de novo para dizer.

A Vaca que ri – Será portanto uma crise de valores?

É mais do que isso. Acho que temos de entrar num novo paradigma de economia. A economia é uma ciência muito alargada que tem que ter em conta factores sociais, psicológicos, entre outros que entram neste jogo da política. Não é só uma crise de valores, é também uma crise de ideias. E não é só em Portugal, o problema das crises económico-financeiras estende-se a nível mundial, veja-se o caso dos Estados Unidos e da Europa. Em 2008 toda a gente disse que o que se estava a passar e a crise que viria eram um problema que resultava do modelo económico segundo o qual ainda vivemos, um modelo assente na ideia de que o crescimento financeiro tem que ser infinito. Isto é uma irrealidade porque os recursos são finitos. Todos disseram que este modelo estava errado mas ele perdura, continuamos a pensar que todas as economias têm que crescer eternamente.

A Vaca que ri - O que faz falta à classe política portuguesa?

Falta a educação séria e uma coisa que me parece evidente nas democracias contemporâneas, não só a portuguesa, que é o problema da desresponsabilização. Não é chegar à esfera pública e dar uma espécie de solução à Futre e dizer que daqui a dois anos haverá empregos para todos. Os políticos têm que ser punidos pelas contradições entre palavras e actos, tem que haver transparência. É preciso saberem-se os números exactos, os dados económicos e financeiros do país. O paradigma da esperança não serve, há que haver responsabilidade.

A Vaca que ri - Acha que se houvessem mais mulheres a ocupar lugares de chefia nos governos as coisas serim diferentes?

Penso que não se trata de uma questão de género, é a tal questão da educação, responsabilidade e tranparência. O governo de Berlusconi é constituído por muitas mulheres, todas elas escolhidas a dedo. O homem e a mulher são radicalmente iguais, com diferenças pontuais e o que interessa à política é o carácter. Os cargos na política deveriam ser desejados por dever e não por benefícios honorários.


A Vaca que ri - Cavaco Silva descobriu o Facebook e tem utilizado esse meio para fazer algumas declarações. É esse o caminho para chegar à chamada Geração à rasca?


Acho que não. O facto de ele ele ter descoberto o Facebook, assim como a JS, ajuda a que eles prossigam na sua caminhada de evangelização política. Penso que chegam de forma demasiado ténue a essa geração. Porque ela é apática, não entende a realidade política e apenas quer ver os seus problemas resolvidos que é ter um emprego e dinheiro para ir ao Bairro Alto à noite. A geração à rasca tem um problema sério de comunicação e não há propostas sólidas de mudança. Para construir alternativas políticas é preciso organização, teses, dizer que os políticos devem ser criminalizados se faltarem à responsabilidade e levar uma proposta como esta à Assembleia da República. Coisas como esta alterariam todo o panorama político.

A Vaca que ri - Se tivesse que fazer uma campanha pelo PDJDP (Partido Despertador de Jovens Desinteressados por Política), que diria para ganhar votos?

Não posso negar que tenho ambições políticas, que não são ideológicas nem partidárias ou de poder. Não tenho ambições de poder político. Ambiciono participar activamente na política, acho que é preciso que participemos e nos organizemos para mudar o horizonte negro que temos. Se eu quisesse ganhar votos proporia a responsabilização dos políticos, não pode ser possível que a nossa democracia esteja assente numa espécie de verdade publicitária, sem que se questione o que é verdade.

A Vaca que ri - Há políticas verdadeiras?

É claro que há. Há políticas boas e más, mas não temos o ambiente mental para criar boas ideias. Os nossos políticos não apresentam os números, não dizem com exactidão o que vão fazer, onde vão diminuir e onde ou o que vão aumentar. A política é ao estilo de Marcelo Rebelo de Sousa, uma política de coscuvilhices, uma política de meninos birrentos que vive de discussões muito superficiais, não vive à conta da discussão de factos. Os factos deviam ser a base das discussões, porque eles existem.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

House desconstruído

Estive a ver o primeiro episódio da sexta temporada de House. E agora penso. Se Deus existe porque não regula melhor as complexidades dos seres humanos que pensam? Porque lhes deixa pensar? Porque não age como Karl Marx e adopta os meios necessários para atingir fins bons? E na falta da existência de um Deus que tenha mais jeito para deliberar quanto a esses assuntos, porque não dotar os homens de incapacidades complexistas? Excitei-me com o House. Ele tem o charme da velhice que poucos terão a sorte de ter. É imprevisível. Uma personagem que apetece com todas as forças ver apaixonado, desmontado, humanizado. A chorar. Chora House! Diz um "I love you"! O House toca-me. Enerva-me. É me próximo. Daí gostar dele. E daí não se gostar dele. Um mau investimento sentimental. Um excitante brinquedo de conquista.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A pena como última instância

Estou sentada na minha cama. A cama é individual e é verde alface. Repousam nela duas almofadas brancas e um peluche muito mediático por estas bandas. Um peluche sem nome mas nem por isso pouco importante. É o peluche que me importava de perder. Dorme comigo. Um cliché romântico? Talvez. Mas não calculado, o que faz toda a diferença. Eu gosto verdadeiramente dele. Tem umas formas engraçadas e como já disse tantas vezes, acorda despenteado como as pessoas.

Feita a introdução, eis o que me traz aqui. Ao velho Asus que me permite falar ao mundo. Estes dias têm sido muito agitados e as mazelas estão espalhadas pelo corpo. Dias em mudanças profundas. Um passado que se repete de alguma forma. As caixas de roupa alinham-se e aumentam no quarto ao fundo do corredor. O futuro parece estar a recomeçar e dá trabalho. Para traz ficaram paredes vazias e lágrimas forçosamente reprimidas. Trata-se de uma coisa chamada divórcio. Palavra que me custa pronunciar. Por ser uma coisa muito definitiva.

A vida não é fácil. Algumas vidas não são fáceis. É a entropia a chegar a bom porto. Ou o caos de que é preciso para recomeçar. 93% do tempo sou triste, disseram-me hoje. Ou estou apagada. O que eu quiser entender. Não gostei de ouvir. Podendo ou não concordar. Talvez seja verdade. Verdade também é que 100% das pessoas não entende as realidades que lhes são alheias. Alheias no sentido de não as viverem. E eu estou nesses 100%. Compreendo perfeitamente que assim seja. A realidade do outro é sempre diferente da minha.

E o que mais tem sobressaído nestes dias ainda frescos, é o sentimento de pena. Descobri o verdadeiro sentido da palavra. Concordo agora que é dos piores sentimentos que se possa ter por alguém. Tenho uma pena profunda do (meu) pai que está só. Tenho pena que ele não consiga ser quem gostaria de ser nos seus momentos de maior lucidez. Uma casa em silêncio é a herança que lhe fica. Tenho pena que ele seja fraco. Tenho pena pelo seu camuflado estado de saúde. Tenho pena que esteja a construir a sua morte sem cabelos brancos. Tenho pena pela vida vazia que leva. Tenho pena por ter conseguido afastar-me dele ao ponto de não querer vê-lo. E por mais que escreva e descreva, ninguém saberá ao certo do que falo.

Chorei. Não muito, mas o suficiente. Quando tinha que ser. No momento certo e no local indicado para se chorar. Fora do alcance visual da minha mãe, por exemplo.

É desgastante. Profundamente burocrático. Embaraçoso. Necessário.