domingo, 1 de agosto de 2010

Caracol Real - Falsa publicidade

Depois de dias a fio sem escrever, aqui estou eu para o fazer de novo. Dias já se passaram depois de tudo o que de mau se passou na minha vida, não muito longínqua. Algumas coisas permanecem e outras nunca mais serão as mesmas. É cliché dizer-se que as coisas más nos fazem crescer, mas eu já o comprovei. Crescer não digo, mas tornaram-me menos vulnerável no sentido em que estou meia anestesiada para tudo o que possa vir. As férias já vão a meio e eu comecei a trabalhar há uma semana. Trabalho no “Caracol Real”, marca muito conceituada que até patrocina o Cinco Quinas. Passo os dias a encher baldes de caracóis, meter molho, carimbar potes, baldes e a ouvir expressões como “São dez de frescos!” ou “agora é uma palete de congelados para a Suíça”. Mas estou a gostar. Pessoas novas, vozes que falam, vozes que ordenam, vozes para tudo e para nada. Lá, ganhei o cognome de “A Princesa” e sinceramente não me importo nada. É o nome mais simpático que por lá se ouve. Fui recebida como são recebidos todos os caloiros, houve curiosidade em saber-se um pouco de mim e eu vou satisfazendo essa necessidade aos poucos. Há bastante sentido de equipa ali. Todos ajudam a todos. Todos me ensinam coisas. E são todos muito diferentes. A patroa não é o protótipo de uma patroa. Já o patrão é muito exigente e está sempre de vigia. Resumindo, nesse campo as coisas vão bem. Tirando algumas mazelas corporais, claro. O resto não sei. De saúde, está tudo bem e este ano a gripe A já não é moda. Sim, porque eu tenho o orgulho de ter sido uma das contempladas com esse virusinho maléfico. No amor as coisas estão no nível zero. Nada de novo. Nada a dizer, tudo a sentir. Estou mais cheia, depois do meu emagrecimento repentino e indesejado. Sinto-me mais atraente e isso é bom para o ego. Ego esse que acaba de recuperar de sucessivos atentados. Entretanto já morreram o Saramago e o António Feio. Portugal perdeu com a Espanha no Mundial, o Maradona ficou triste por a Argentina ter ido para casa antes do dia da final, o Cristiano Ronaldo recebeu a encomenda, a Fátima Lopes saiu da SIC e o Marco ganhou o Achas que sabes dançar. Muita coisa se passou no mundo inteiro. Muitos carros percorreram o percurso França – Portugal e muitos ainda o farão nos próximos dias. Uma das minhas superiores no trabalho esteve a morar muito tempo na Alemanha. Vejo nela aquela atitude de querer produzir sempre mais do que no dia anterior, espírito que me parece um resquício da fase hitleriana. Lembrei-me agora porque se diz que os portugueses são preguiçosos. Em Portugal. As coisas para a minha ida para Barcelona estão a ser encaminhadas e já ando a contar os dias. Já começo a sentir o friozinho da ansiedade. É o plano mais aguardado dos últimos anos. Vou deixar tudo para trás e viver para mim. Vou sentir saudades, coisa que me apetece ter. Também quero ter a sensação de que as pessoas que ficam vão dar pela minha ausência. Levo a minha Canon, a minha mala de rodinhas com o casaco preto de inverno e pouco mais será preciso. Levo a carteira na mala de mão, levo-te a ti na mala do coração. Isto está a ficar com um toque romântico e é melhor acabar já com este textinho. Saúde.