domingo, 22 de novembro de 2009

O exagero no ignorar das diferenças que podem suscitar pena...

No dia-a-dia, cruzamo-nos com pessoas que andam de cadeira de rodas, pessoas com trissomia 21, pessoas que não têm um membro, anões e até pessoas que achamos feias como a parte de trás de um comboio. Essas pessoas têm certamente uma consciência mínima daquilo que são e do modo como podem ser vistas pelos outros. Se uma pessoa anda de cadeira de rodas, porquê ficar-se indignado quando a cadeira de rodas lhe é apontada como uma característica? Será que se um professor dissesse numa aula "o menino da bicicleta tipo BMX" em vez de "o menino da cadeira de rodas" para se referir a um aluno, as pessoas ficariam igualmente chocadas? Talvez não. Aqui a cadeira é quase um tabu. Deve fingir-se que ela não existe e que a pessoa que a usa é um ser humano igual aos outros. De facto é igual, mas com o esforço tão artificial que se faz para tentar transmitir isso, a pessoa torna-se muito muito diferente. E coitadinha. Se já era diferente por questões físicas inegáveis, passa também a sê-lo por pertencer ao grupo dos coitadinhos. E quando vamos na rua e vemos um anão? O olhar tende a fugir para os lados, para cima, para baixo, mas focar na pessoa é proibido. Parece que se não olharmos eles nos vão achar pessoas melhores e vão andar na rua a pensar que têm dois metros de altura. Eles são seres pensantes, de certeza que reparam em nós nestas alturas e pensam "não finjas que não sou anão" ou "não finjas que não vês a minha cadeira de rodas, estou mesmo aqui, sentado em cima dela".